Os Três Passos

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Kongma La

Como eu falei no post anterior decidi fazer essa trilha por ser a mais longa, mais bonita, mais difícil e principalmente por incluir o Campo Base do Monte Everest e Gokyo. Não tinha muita ideia do que essa escolha me traria mas fui, só fui.

Não consegui ninguém para me acompanhar antes de ir e até o portão de embarque estava sozinho. Mas não demorou muito até conseguir companheiros de viagem.

O vôo

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O vôo de Kathmandu a Lukla reduz em alguns minutos um trekking de 6 dias. Pode parecer preguiçoso, mas eu recomendo fortemente o voo. Não só pelo atalho, mas também porque as paisagens foram as mais bonitas que já vi de um avião.

O preço dos vôos variam de acordo com a empresa aérea (150-180 USD o trecho), bastante salgados; têm, no entanto, a vantagem de serem 100% reembolsáveis e completamente flexíveis. Yeti e Sita são algumas das empresas que fazem esse trecho, eu voei com a Sita mas acho que não é a melhor. A data de retorno pode ser deixada em aberto porque há a possibilidade do trekking terminar antes ou depois do tempo previsto.

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O aeroporto de Lukla é considerado um dos aeroportos mais perigosos do mundo. A altitude, o tamanho da pista (450m!) e as condições climáticas imprevisíveis da região conferem-no essa fama.

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Isso pode fazer você querem pegar o Jeep ou Busão até Jiri e adicionar alguns dias na viagem só pra garantir, né?!

Se vocês forem procurar as estatísticas  verão que toda essa fama não é baseada em fatos, é mais uma lenda urbana. Adicione a isso o fato de que as estradas do Nepal são as mais tenebrosas e perigosas por onde eu andei,logo o voo continua sendo a melhor opção.

Depois de um voo de 45 minutos com as primeiras vistas dos himalaias, chega-se a Lukla.

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O pouso é extremamente divertido: olhando pela janela, não tem nada… nada … nada… POW a pista aparece e, devido à sua extensão curta, o avião desacelera muito rápido. É um pouso com (muita) emoção.

1° dia: Lukla (2.840 m) -Monjo(2.835 m).
(distância: 16km Tempo: 6 horas)

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No primeiro dia de caminhada conheci as duas pessoas que me acompanhariam nos próximos 4 dias. Um canadense e um japa. O japa era apaixonado pela cultura e música brasileira. Gostava de Caetano, Chico Buarque, Marisa Monte, Chico César e praticamente toda minha lista brasileira no Spotify.

A caminhada nesse dia é um pouco longa mas não é difícil, a maior parte do tempo é descida ou “plano”. Provavelmente não há uma palavra em napalês que signifique plano; esse conceito é inexistente por lá. Sempre se etá subindo ou descendo. Almoçamos em Phakding, onde muita gente passa a primeira noite, mas resolvemos continuar.

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Chegamos a Monjo já no final do dia porque nosso voo atrasou e começamos a caminhar às 11h da manhã e chegamos as 17h, já escuro.

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O hotel custa em torno de 100 rupias (pouco menos de 1USD) por pessoa, mas é mandatório que se coma pelo menos 2 refeições durante a estadia. O menu é muito mais caro que em Kathmandu o que se justifica porque tudo chega lá de mula ou pelos carregadores.

Chega a ser 10 vezes mais caro nos lugares mais elevados. A noite faz um frio de lascar por isso é importante ter um bom saco de dormir, pelo menos para -10°C. Eu comprei meu saco de dormir em Kathmandu e era muito ruim. Mas os hotéis fornecem cobertores, então nem sofri com o frio.

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2° dia:Monjo(2.835 m) – Namche Bazar (3.440m)
(distância: 5,2km Tempo: 3 horas 30 minutos)

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Esse dia foi mais curto mas muito mais difícil que o primeiro. Ascendemos aproximadamente 600m praticamente só no último quilômetro. Namche Bazar é uma vila gigantesca em comparação as outras, praticamente uma cidade.

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É recomendado que se ascenda no máximo 500m por dia e todas as vezes que houver um ganho de altitude próximo a isso, deve-se fazer um dia de aclimatação. É aconselhável também que caminhe até uma altitude maior do que a que se dorme.

Ficamos duas noites em Namche e, para não ficar parado conhecemos algumas vilas ao redor que também eram mais elevadas.

3° dia: Syanboche (3.720m)-Khunde (3.840m)- Khunjung (3.780m)
(Distância: 9km Tempo: 4 horas)

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Vila Khunde com Ama Dablan ao fundo

Seguindo as regras de aclimatação e fomos para essas vilas ao redor de Namche. A partir daí parece que começa o trekking de verdade. As montanhas parecem mais próximas e a altitude começa a pesar um pouco.

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As três vilas são muito bonitinhas e é a primeira vez que aparece o Ama Dablam, que eu apelidei carinhosamente de Matterhorn dos Himalaias.

Em Khunde há um mosteiro que vale a pena conhecer e em Khunjung há supostamente o escalpe de um Yeti. Quem quiser pode pagar pra ver!

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Nesse dia nos despedimos do Masa, porque ele tinha pouco tempo e seguiu em direção a Tengboche enquanto nós voltamos para Namche.

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4° dia: Namche (3.440m)- Pangboche (4.000m)
(Distância: 13,6km Tempo: 4horas e 15 minutos)

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Acordamos um pouco mais tarde do que o programado nesse dia e seguimos viagem em direção a Tengboche. A caminhada até Tengboche não é tão fácil assim porque tem uma descida longa e subida equivalente; mas eu e o Steve estávamos andando em um ritmo bom e conseguimos chegar antes do almoço em Tengboche.

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Tengboche é famosa por seu mosteiro, bastante grande e com uma história interessante. Teve de ser reconstruído algumas vezes por causa de um incêndio e também pelo terremoto.

Também nesse mosteiro os monges fazem as mandalas de areia colorida. Impressionante como eles conseguem fazer os pequenos detalhes como olhos, sorrisos e vestimentas, tudo só com areia. Quando terminam, destroem a obra e iniciam tudo de novo. Um daqueles momentos da viagem que eu fiquei mais impressionado e grato por poder presenciar.

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Depois do almoço seguimos até Pangboche, muita gente passa a noite em Tengboche e a maioria dos livros recomenda passar lá, mas estávamos com um pouco de pressa e decidimos continuar.

Chegamos já de noite e pegamos o último quarto, no último lodge que tinha lugar disponível. Não preciso nem dizer que foi o pior quarto em que ficamos. Quase morri de frio!

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5° dia  Pagnboche (4.000m) Dingboche (4.410)
(Distância: 6,2km Tempo: 1hora e 40 minutos) 

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Um dia curto que serve mais para aclimatação.

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Tem uma montanha nessa vila chamada Nangkartshang (5.0173m). Quando chegamos na vila deixamos nossas mochilas no lodge e seguimos para esse pico.

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Subimos uma parte e o Steve começou a sentir dor de cabeça e decidiu ficar por lá mesmo. Eu segui subindo e uma meia hora depois comecei a sentir falta de ar e a cabeça leve. Achei que seria prudente descer e também chegaram algumas nuvens então não tinha muito para ver. Assim que cheguei lá embaixo já me senti melhor.

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6° Dia Dingboche (4.410m)- Chukung (4.710m)
(Distância: 4,4km Tempo: 1hora e 40 minutos)

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Último dia em que eu e o Steve viajamos juntos. Ele tinha pouco tempo e estava indo direto para o Everest Base Camp. Foi o único dia que andei sozinho! Chukung é o ponto de partida para o primeiro passo: Kongma La.

Cheguei muito cedo em Chukung e para ajudar a aclimatar comecei a andar para alguns morros que cercavam a vila. Há uma trilha que leva até o acampamento base do Island Peak, uma das montanhas acima de 6 mil metros mais acessíveis do parque e a mais popular.

Não tinha pretensão de chegar até o acampamento base do Island Peak, mas segui andando e acabei chegando lá. Nesse dia foi o que eu mais senti os efeitos da altitude: dor de cabeça, falta de ar e pré-síncope. Os sintomas ficaram mais fortes quando eu estava quase chegando no acampamento e achei prudente continuar porque se precisasse de ajuda era mais fácil conseguir lá do que tentar voltar 7 km.

No final, deu tudo certo. Voltei vivo pra Chukung, mas estava um pouco apreensivo principalmente porque em 2 dias iria atravessar o primeiro passo. Estava com medo de não conseguir por causa da altitude.

7°  Dia Chukung Ri (5.550m)
(Distância: 4,2km Tempo: 4horas e 30 minutos)

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Tive uma das piores noites de sono nessa vila. Acordei várias vezes durante a noite com falta de ar e muito frio. Fui tomar água e tava tudo congelado!

A despeito da noite ruim precisava tentar aclimatar da melhor forma possível e o Chukkung Ri, um pico de 5.550m, é a melhor forma de fazer isso nesse ponto da viagem.

Uma trilha fácil e não muito longa. 5.550m é a maior altitude que se chega nessa trilha. Pela primeira vez tive uma visão tão ampla dos vales e picos que cercam a região. Quando eu estava no pico do Chukung Ri eu percebi como eu amo isso tudo! Tem muita beleza no mundo!

Subindo a trilha do Chukung Ri encontrei Ruby uma menina de Hong Kong e perguntei se eles iriam atravessar o Kongma La no dia seguinte e eles disseram que sim. Eu estava sozinho naquele ponto da viagem, mas não estava querendo atravessar o passo sozinho. Me disseram que era muito longo e que não tinha lugar para comprar água ou comida no meio do caminho.

Ela estava junto com um grupo de gente de todo lugar do mundo, principalmente África do Sul. Perguntei se eu poderia ir junto com eles no dia seguinte e ela disse que sim.

8° Dia KONGMA LA PASS:
Chukung (4.710)- Kongma La (5.535m)- Labuche (4.928m)
(Distância: 9,2km Tempo: 8horas)

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Às 6:30 da manhã, encontrei me com eles e partimos para atravessar o primeiro e mais longo passo.

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O grupo com que me adotou era bastante diverso. Um deles, Richard, estava em um ano sabático e queria fazer uma viagem pro Nepal. Criou um grupo no Facebook e convidou os amigos que potencialmente iriam. No final, 6 pessoas toparam e eles todos se encontraram em Kathmandu para viajar. Fato interessante é que eu estou escrevendo isso na sala da casa dele na Cidade do Cabo, África do Sul.

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Não preciso nem dizer que nos demos muito bem.

Chegar até o passo (Kongma La) foi uma das partes mais difíceis da trilha até então. Tivemos que subir 700m de altitude em 4 horas com as mochilas nas costas.

Quando chegamos ao Kongma La eu percebi mais uma vez como eu gosto de trekking e como um passo de montanha oferece uma experiência única. De um lado do Vale Khumbu, onde fica a rota mais rápida e popular para chegar ao acampamento base do Monte Everest; do outro Chukung, Ama Dablan, Lothse e um lago de águas azuis. Segundo ponto alto da trilha, literalmente.

Do topo do passo, dava para ver a cidade onde passaríamos a noite: Lobuche. Crentes de que o pior já tinha passado e que agora era só descer e atravessar a geleira.

Já tinha sido avisado por outros viajantes e lido no guia que essa geleira era a pior de todas para atravessar, depois de um dia inteiro de caminhada pesada, você acha que já chegou mas tem que atravessar essa geleira. O livro define essa última etapa como um “sucker punch” ou um soco na boca do estômago. Não poderia definir da melhor maneira.

Julie, uma das sul africanas, e eu fomos os primeiros a chegar na geleira. Quando chegamos no topo da borda ela me olhou desacreditada. Eu falei para ela que até tinha antecipado o “soco na boca do estômago”, mas um sucker punch é um sucker punch. Mesmo que se antecipe, quando inevitável, dói!

Não só a geleira era composta por várias subidas íngremes seguidas de decidas igualmente íngremes, mas é um lugar monocromático, tudo é cinza: pedra, poeira, gelo, tudo! Isso faz com que o caminho seja difícil de encontrar e muito fácil de se perder.

Ela começou na frente, mas logo se perdeu e quando eu vi, eu estava na frente dela. Não conseguia vê-la em lugar nenhum, mas conseguia escutar ela gritando me procurando e eu gritando de volta.

Todas as vezes que eu chegava no topo de uma das colinas, querendo morrer, achava que era o último, mas nunca era. Depois de quase 2 horas caminhando, se perdendo e se achando de novo, finalmente chegamos do outro lado.

As montanhas trazem de presente as vistas de tirar o fôlego, mas ver aquela vila depois de um dia inteiro de caminhada foi a imagem mais bonita do dia! Comecei a gritar feito um louco pra Julie seguir minha voz e saber que finalmente tínhamos chegado.

Os outros ficaram bastante pra trás. Como nós, eles se perderam e depois se acharam e se perderam novamente e por fim todos se acharam.

Nessa noite, depois de jantarmos as 18:00, todos foram pra cama as 19:30. Ninguém conseguia ficar de olhos abertos depois desse dia. Foi o dia mais difícil de toda a trilha.

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Antes do primeiro passo as botas que eu comprei em Kathmandu rasgaram. Os alemães me ajudaram a resolver o problema rapidinho!

9° Dia Lobuche (4.928m)- Gorak Shep (5.164m) + EBC+ Kala Patar

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Esse é o grande dia!

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Partimos de Lobuche cedo e chegamos a Gorak Shep 1h e 15 min depois. Para muita gente é assim que termina o dia. Mas eu estava querendo ir ao Everest Base Camp e não estava querendo fazer como os outros que acordariam no dia seguinte às 4:30 da manhã para ver o pôr do sol do Kala Patar.(Percebam que é QUARTO E MEIA DA MANHÃ,num frio de MENOS VINTE GRAUS)

Todo mundo ficou falando que eu era muito corajoso por fazer os dois no mesmo dia, mas se vocês acham que eu ia acordar 4:30 da manhã, num frio de -20°C vocês tão bem “loko”. Não sou tão corajoso assim.

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Cheguei ao EBC e (surpresa!) não dá pra ver o Everest e não tinha nenhuma barraca lá. Não é o lugar mais bonito, mas vale a pena chegar até lá só pra saber como é que o pessoal começa a trilha para chegar ao pico mais alto do mundo.

Voltei para Gorak Shep e segui pro Kala Patar, uma montanha de 5.550m de onde se tem uma das melhores imagens do Everest. Uma trilha bastante íngreme, mas relativamente fácil.

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No por do sol, quando os raios de sol batem na face sul do Everest quando nenhuma outra montanha recebe os raios, labos secos, garganta seca, pele seca e olhos que insistiam em ficar molhados.

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No caminho de volta, o céu mais estrelado que eu já vi!

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10° Gorak Shep (5.164m)- Dzongla (4.830m)
(Distância: 6.3km)

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Dia relativamente fácil e curto.

Em Dzongla ficamos no melhor lodge de toda a viagem. Camas confortáveis e sala comum bem aconchegante. A partir daqui incorporamos mais dois alemães no nosso grupo.

O grupo de sul africanos acabou ficando para trás porque 2 deles estavam sentindo a “altitude sickness” e precisaram ser evacuados de helicóptero.

11° CHO LA PASS:
Dzongla(4.830m)- Cho La (5.420m)- Gokyo (4.800m)
(Distância: 12km)

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Segundo passo de montanha. Esse passo é bastante diferente porque tivemos que atravessar uma geleira que, diferentemente das outras tinha neve. Quase todo mundo usou “crampons” aqueles grampos para colocar no pé pra não escorregar no gelo. Eu não usei…..

Porque eu não tinha.

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Cho La Pass (Sem crampons-rs)

Depois de mais uma geleira parecida com a primeira e finalmente chegamos no meu lugar favorito de todos: GOKYO!

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12° Gokio Ri (5.369m)
(Distância: 3,6km)

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Gokyo é sem dúvidas o lugar mais bonito de toda a trilha dos três passos. Cercado por montanhas, esse pequeno vilarejo se torna mais espcial que os outros devido ao seus lagos.

São seis lagos de água azul turquesa que tornam a paisagem, no mínimo, surreal.

Gokyo Ri é a montanha onde todos sobem para tem uma visão melhor do vale e principalmente dos lagos. Não só pode-se ter uma boa panorâmica do vale e dos lagos, mas a que é na minha opinião a melhor imagem do Everest.

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Uma subida bastante íngreme que demanda bastante esforço físico. No lodge em que ficamos há uma lista dos homens que conseguiram completar a subida em menos de 1 hora. Eu não consegui. Subi em 1 hora e 3 minutos. Vou ter que voltar pra tentar de novo!

13° Lagos de Gokyo

Como eu não consigo ficar parado, convenci os alemães a ir para os outros lagos. A vila fica no terceiro lago e queríamos caminhar até o quinto. Chegamos lá e eu queria entrar na água. Estava muito, mas muito frio; mesmo assim, estava com essa ideia fixa. Um dos alemães quis entrar comigo.

Quando entramos na água, parecia que todo meu ar saiu do meu peito e eu não sentia nada do meu corpo. Rolou um medinho, mas assim que saí da água me senti mais quente e vivo do que nunca.

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O resto do grupo ficou em Gokyo na padaria comendo cheesecake o dia inteiro. A propósito esse lugar tinha o melhor cheesecake de todo o Nepal!

14° RENJO LA PASS:
Gokyo (4.800m)- Renjo La (5.350m)- Marulung (4.200m)
(Distância: 13km)

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Depois de três noites em Gokyo, chegou a hora de atravessar o último passo. A subida até o passo não era muito difícil, mas a descida foi infinita!

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Em Marulung ficamos na casa de um Sherpa que subiu 10 vezes o monte Everest e conseguiu abrir o lodge onde ficamos.

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O que me chamou a atenção foi que na sala comum do lodge tinha um trabalho de escola, esses de cartulina, de um dos filhos dele.  Era sobre seu pai. Uma colagem das fotos de todas as vezes que seu pai subiu o Everest.

Achei muito engraçado e fiquei imaginando as crianças na escola.

“Quantas vezes seu pai subiu o Everest?”

“10… e o seu?”

“Só 5… =/”

15° Marulung (4.200m)- Namche(3.440m)
(Distância: 16km)

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Na reta final, passamos por uma região que foi bastante modificada pelo terremoto em 2015. E novamente descemos a linha das árvores e tudo começou a ficar mais verde. A aventura estava quase no fim.

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16° Dia Namche

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Dia de folga, tomando café e comendo bolo fazendo ABSOLUTAMENTE NADA!

E o detalhe mais importante MEU PRIMEIRO BANHO DA TRILHA. Mais um recorde na minha vida, 15 dias sem tomar banho!

17° Dia Namche(3.440m)-Lukla(2.850m)
(Distância: 17km)

Na última parte da viagem todos pareciam em êxtase. Descemos até Lukla quase correndo e sem muitos problemas.

Dava pra sentir no ar a alegria de todo mundo por ter conseguido terminar as trilhas e voltar até Lukla. Sensação de conquista, missão cumprida… todo mundo com um sorriso de orelha a orelha!

18° Dia Voo Lukla – Kathmandu

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No mesmo clima, todos extasiados, voltamos a Kathmandu e aquela despedida dos Himalaias de pertinho no avião.

Sem dúvidas essa foi a viagem da minha vida, por enquanto. Espero sinceramente que todos vocês possam sentir um pouco da felicidade e paz que eu senti nesses dias.

 

 

TB: Trekking Kalaw – Inle Lake

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Depois de passar alguns dias em Bagan, segui para Kalaw. Uma das trilhas que me disseram que seria interessante fazer para chegar até Inle Lake.

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Kalaw é uma pequena cidade no meio das montanhas, calma, quieta e como toda cidade de montanha com temperaturas mais amenas que o restante do país. Fiquei uma noite só na cidade porque queria descansar antes do trekking. Algumas pessoas pegam ônibus de Bagan ou Yangon até Kalaw, chegam de madrugada e fazem o trekking no mesmo dia.

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Eu não estava muito afim de ir direto e tinha tempo de sobra, então resolvi ficar uma noite em Kalaw.

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Reservei o trekking de 3 dias em uma agência chamada Sam’s Family e recomendo fortemente. Nosso guia era formado em geologia e falava muito bem inglês. Há a possibilidade de fazer o trekking em 2 dias, mas saiba que são 66km de caminhada. A caminhada é tranquila porque não tem muitos altos e baixos como o Nepal, mas, a despeito disso, é bastante longa.

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No nosso grupo eramos 5: um casal israelense, um casal francês e eu.No primeiro dia andamos 24 km passando por escolas, mosteiros, pequenas vilas e campos de milho até a vila onde passaríamos a noite. Choveu apenas no último trecho da viagem e não fez muita diferença na caminhada. Ficamos na casa de uma família, jantamos com eles e dormimos todos em um quarto só em “colchões” no chão.

No segundo dia a israelense estava com os joelhos doendo e o casal voltou de moto para Kalaw. Essa é uma das vantagens da trilha: se por acaso você precisar ou quiser desistir, uma moto (não um helicóptero) vem te buscar. Seguimos para o que seria o dia mais longo e o mais bonito da caminhada. Passamos por campos de amendoim, gengibre, tomate, melancia e outras culturas. Foi a primeira vez na Ásia que eu via tanta diversidade e cor. Geralmente é tudo verde e muito arroz.

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Diferentemente do que acontece em outros países, nessa caminhada não havia crianças pedindo  dinheiro ou gente querendo vender qualquer coisa. As pessoas nos olhavam com curiosidade e simpatia, perguntando de onde éramos, nome etc. Disse ao guia que isso me chamou a atenção e ele falou que, como o país abriu apenas recentemente para o turismo, as coisas ruins que o turismo traz ainda não chegaram e que os guias são orientados a denunciar qualquer coisa errada além de manter uma consciência ambiental que antes não existia.

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Se você quiser fazer qualquer doação para as crianças de livros ou material escolar, essas doações são entregues aos professores ou aos pais, mas nunca às crianças para não encorajá-las a pedir esmolas no futuro.

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As escolas dessa parte do país são muito barulhentas, mais do que normalmente escolas são. O motivo é porque em Myanmar as crianças têm que decorar muita coisa e depois falar em voz alta, então durante a manhã toda só se escuta as crianças gritando o mais alto possível tentando decorar o que aprenderam.

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Passamos a segunda noite em uma vila um pouco maior que a da primeira noite no mesmo esquema da primeira noite.

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O último dia foi o mais curto (16km) e mais fácil, só descida. Conseguimos ver o Inle Lake de um ângulo muito bonito e finalmente chegamos a suas margens. Pegamos um barco e 1 40 minutos depois já estávamos na cidade às margens do lago.

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Inle lake é um lugar muito bonito e vale a pena passar alguns dias para conhecer. Internet é produto raro por lá, o que eu acho uma vantagem!

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Sagarmatha

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“Não tema as montanhas, mas respeite-as.” Esse foi o conselho de um amigo italiano quando eu disse que iria para o parque nacional Sagarmatha aqui no Nepal e essa frase ficou na minha cabeça durante todo o trekking.

Essa viagem foi uma das mais especiais pra mim e muitas coisas contribuiram para isso. As paisagens maravilhosas, cultura local e os companheiros que conheci na jornada. Não me lembro de me sentir tão feliz durante essa viagem.

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Quando cheguei a Katmandu não sabia qual trekking eu faria. Acabei decidindo pelos Três Passos de montanha no Parque Nacional Sagarmatha. Porque eu vou explicar em outro post.

Trekking é um dos principais, se não o principal motivo que atrai turistas ao Nepal. Foi por essa razão que acabei vindo para cá. Dentre inúmeras trilhas e parques por aqui, todos com sua particularidade e beleza, decidi começar pelo Sagarmatha porque a melhor época do ano para visitar essa região são os meses de Março e Abril no início do ano e novamente em Outubro e Novembro ao final.

Três passos: La, La, La.

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Sagarmatha é o nome nepalês para o Everest, que significa “cabeça do céu”, e o parque nacional dessa região acabou recebendo seu nome. Uma região montanhosa no nordeste do Nepal que faz fronteira com o Tibet e abriga alguns do maiores picos do mundo, inclusive o maior de todos.

Há algumas outras coisas a se considerar antes de ir para lá. Não há estradas que levam direto a Lukla, a principal cidade onde a maioria inicia o trekking. É possível, no entanto, chegar a Jiri, uma outra cidade mais distante, de jeep ou ônibus, mas isso adiciona pelo menos un 6 dias ao trekking, então, se estiver meio curto de tempo, é melhor pegar o voo.

As trilhas mais famosas e mais visitadas dessa parte do Nepal são: Campo base do Everest, Gokyo e os Três passos. Escolhi a última porque é a mais longa e inclui as outras duas. Já que eu voaria pra lá, porque não fazer logo a mais longa e mais difícil né?

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Kongma La, Cho La e Renjo La são os nomes dos passos. Obviamente “La” significa passo de montanha em Nepalês.

Fiquei alguns dias em Kathmandu preparando o equipamento, comprando ou alugando roupas de frio e tentando achar companhia para fazer o trekking. Não consegui achar ninguém e resolvi ir sozinho. Comecei a trilha sozinho, mas os himalaias logo me presentearam com as melhores companhias que eu podia querer. Conheci pessoas incríveis que desde o início me ajudaram muito a terminar a trilha!

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Se vocês me perguntarem se é necessário contratar um guia direi que não. Se eu aconselho contratar um guia, sim. Não pelo perigo de se perder ou passar por maus bocados sozinho, mas sim para valorizar o trabalho dos guias por aqui e aprender mais com eles.

Sherpas

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Sherpa é um dos diversos grupos étnicos que contribuem para a pluralidade cultural do Nepal. Habitam principalmente a região do Everest e estão nessa parte do país desde há 500 anos. Originários do Tibet, possuem características fenotípicas parecidas com tibetanos bem como culinária e religião, são majoritariamente budistas.

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Fisiologicamente, têm uma capacidade de ligação de hemoglobina maior do que o resto do mundo e produzem mais óxido nítrico, diferentemente da população andina, que para driblar o ar rarefeito e respirar mais oxigênio, têm uma caixa torácica com diâmetro ântero-posterior maior.

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Medicinisses aparte, é um povo incrivelmente resistente a ambientes extremos, surpreendentemente forte, inteligente, muito simpático e dono de um olhar que transmite uma paz e uma inocência crua, por vezes pisada mas apesar de tudo isso, sincera.

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Um povo muito trabalhador que consegue ser bondoso quando possível e duro quando necessário. Em geral, gente que vive no interior tem essas características e lá não é nem um pouco diferente.

Infelizmente, “Sherpa” agora é um termo que é utilizado como sinônimo de carregador. Acho um pouco ofensivo, apesar de ser uma das principais formas desse povo conseguir dinheiro, não acho que uma etnia inteira vire sinônimo de uma profissão.

 

Yaks

Um animal que os sherpas usam como ajudantes para quase tudo: arar a terra, carregar mantimentos para o topo e comida.

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Tenzing Norgay

No dia 29 de maio de 1953 as primeiras pessoas ascenderam ao topo do mundo (i.e. Everest). Sir Edmund Hilary e Tenzing Norgay. O primeiro é um neozelandês de quem se fala sempre, mas essa história não é sobre ele.

Tenzing Norgay foi tão importante quanto Edmund Hilary e faz parte de um grupo de profissionais que falam pouco e de quem quase nunca se fala. Considerado um dos asiáticos mais influentes do século passado.

Assim como ele, muitos sherpas trabalham duro todos os anos preparando o caminho para que expedições de todo mundo consigam confortavelmente alcançar o topo do Everest.

Enquanto essas pessoas pagam uma quantia média de 50 mil dólares americanos para chegar ao topo, aparecem na mídia internacional e às vezes recebem mais ainda de patrocínio, quem arrisca a vida construindo o caminho e montando os acampamentos para que ou outros consigam chegar ao topo do Everest, recebem uma parte mínima dessa quantia. De qualquer forma, conseguem em 3 meses a quantidade de dinheiro suficiente para prover suas famílias por pelo menos um ano.

Conheci um Sherpa que ascendeu 10 vezes (10 VEZES!) ao topo do Everest para conseguir dar uma condição de vida melhor para sua família. São, sem dúvidas, os verdadeiros heróis anônimos dessa história. São eles que merecem todo o crédito e todo meu respeito.

No próximo post vou detalhar um pouco melhor a trilha pra quem quiser vir pra cá!

 

 

TB: A terra tremeu

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Depois de passar alguns dias em Yangon e reencontrar a Shanice, minha amiga holandesa, segui viagem para Bagan no centro do país.

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Uma viagem muito desconfortável de umas 12 horas num busão quente pra caramba. Quando chegamos em Bagan fui direto para o hostel e dormi!

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O terremoto

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Quando acordei umas 11 horas da manhã, olhei no meu celular e tinha uma mensagem de um amigo de Hong Kong perguntando se eu estava bem porque ele tinha lido uma notícia de que houve um terremoto em Mianmar.

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Eu nem dei muita importância e falei que deveria ter sido em outro lugar do país e que eu estava tranquilo.

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Resolvi procurar no google sobre o tal terremoto e descobri que algumas horas antes ocorrera um terremoto razoavelmente forte que danificara alguns dos templos. Corri até a recepção, eles confirmaram a notícia, disseram que todos os templos estavam fechados para visitação e que Sulamani, um dos templos mais importantes havia sido danificado demais

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Bagan era um dos lugares que eu mais queria visitar, um dos sonhos da minha vida era visitar esse lugar com todos os templos. Esse dia talvez tenha sido o dia mais triste de toda a viagem.

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Sulamani, o templo que mais foi destruído nesse terremoto e o que mais me doeu o coração de ver assim.

 

Samsara

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A primeira vez que eu ouvi falar desse lugar, foi logo depois de ter feito o voo de balão na Capadócia na Turquia em 2012. Gostei tanto de voar de balão que procurei todos os lugares em que se pode voar de balão e onde vale a pena ir. Bagan apareceu como um dos lugares mais bonitos e tinha decidido que faria esse voo independentemente do preço. Infelizmente, a temporada em que se fazem os voos de balão é bastante curta, apenas 2 meses no ano por causa das chuvas. Não foi dessa vez que voei, quem sabe num futuro não tão distante não vamos juntos, né pai?!

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Depois de ver algumas fotos da cidade, assisti um filme chamado “SAMSARA” que é um dos meus favoritos. São quase duas horas de apenas imagens e música que deixam qualquer um hipnotizado e uma das primeiras cenas mostra o voo de balão em Bagan. Vale a pena assistir em boa qualidade e de preferência depois de uma taça de vinho. Sem dúvidas as imagens são melhores do que qualquer uma de minhas fotos.

Os templos

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Damayangyi é o maior templo de todo o complexo. Apesar de não ter sido destruído por esse terremoto, foi parcialmente destruído por outros terremotos no passado.

Uma antiga cidade do reino de Mianmar que chegou a possuir mais de 10.000 templos e pagodas e que agora abriga aproximadamente 2.200 templos. Por algumas horas deixei de ver esse lugar em todo seu esplendor.

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Thatbyinnyu: diferente dos outros templos, esse tem uma cor branca acinzentada.

 

Passados os primeiros momentos em que eu só queria chorar, resolvi alugar uma bicicleta e explorar um pouco os templos.

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A área dos templos é relativamente grande e explorá-la de bicicleta é um bom exercício físico! Contudo, como já aprendi no Angkor Wat, depois de umas 4 ou 5 horas perde-se o interesse e todos os templos parecem iguais… por isso deixei para explorar os templos em 3 dias.

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São muitos templos! Reservei apenas alguns que eu mais gostei e vou comentar um pouco só em cada foto.

Silver linings

Apesar do terremoto ter destruído mais de 180 templos, uma coisa boa disso tudo foi ver o pós terremoto imediato.

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Não tinha dado tempo para limparem as pedras, ou tentarem cobrir os templos para não danificar mais ainda. Quando estava explorando alguns dos templos que talvez ninguém tivesse visto que tinham sido danificado, vi vários grupos de voluntários e monges inciando os trabalhos para a limpeza e reconstrução dos templos. Teve até a visita do presidente ao maior dos templos que quando eu cheguei tava cheio de câmeras, polícia, paparazzi e aquela confusão toda.

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Foi ruim não poder escalar nenhum dos templos, mas foi uma oportunidade ímpar vê-los logo depois do terremoto e as pessoas tentando minimizar os danos trabalhando juntos com as próprias mão. No final das contas, se não fosse o terremoto, se não fossem os templos quebrados, se não fossem as pessoas querendo ajudar, se não fosse o Sulamani quebrado… não seria minha viagem.

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TB: Yangon

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Como eu tinha falado, resolvi ir passando por todos os países que faltam entre um post novo e outro. Sempre que rolar esse “TB” significa que já não estou mais lá!

Yangon

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A maior cidade de Mianmar, com aproximadamente 6 milhões de habitantes, capital do país até 2006 é lugar mais bem desenvolvido por lá. Os livros que vocês lerem sobre a história de Mianmar, quer sejam romances ou outros livros, geralmente tem como início essa cidade.

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Conhecida antigamente como Rangoon,  foi sitiada durante a segunda guerra Anglo-Burmese e palco de alguns bombardeios durante a segunda guerra mundial, ainda assim mantém a beleza de uma cidade com a maior quantidade de prédios coloniais no sudeste asiático. Os prédios coloniais lentamente dão espaço a  prédios modernos, altos e até um projeto audacioso de um grande aquário no centro da cidade.

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Sem dúvidas muito mais cosmopolita do que todos os lugares que tinha visitado até então no sudeste asiático. Sua população, além do povo da birmânia, é composta também por gente da Índia, Bangladeshi e Paquistão. Não é preciso nem dizer que além das pagodas douradas e templos budistas, mesquitas estão espalhadas por toda cidade, obviamente em menor quantidade.

Aula de inglês

Na primeira manhã nessa cidade, conheci um israelense e resolvemos sair pela cidade conhecendo seus principais pontos turísticos. Quando estávamos no monumento da independência que é bem parecido com um obelisco, eu estava lendo um guia sobre a cidade quando ele voltou falando que uns 4 meninos de aproximadamente 16 anos tinham nos convidado para ir pra uma aula de conversação em inglês. Achei meio estranho na hora, mas não estava fazendo nada demais mesmo, então, por que não?

Seguimos eles por umas ruelas e subimos até o quarto andar de um prédio. Chegando lá havia uma sala de aula com vários pequenos grupos de alunos. Escolhi um dos grupos e começamos a conversar. As perguntas eram bastante simples e principalmente sobre o Brasil, nossa cultura, paisagens, cidades e tudo mais. Todos eram muito curiosos.

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O que me fez pensar muito, foi quando um dos alunos me perguntou se eu já tinha visitado algum outro país da América do Sul  e eu respondi que sim. Respondi que um deles era Venezuela e um aluno prontamente complementou “Ah.. I know, Mount Roraima and Angel falls… the biggest waterfall in the world.”

Eu fiquei extremamente surpreso e de certa forma incomodado. Fiquei surpreso como um daqueles meninos, nesse país que eu mal tinha ouvido falar sabia detalhes sobre a Venezuela que eu só descobri porque eu fui pra lá. Essa minha reação me incomodou muito. Porque ela queria dizer que eu considerava todos eles com um nível de educação muito inferior ao meu e que era inadmissível que eles soubessem tanto assim de um país tão distante, enquanto eu tive que explicar pra vários amigos onde ficava Mianmar.

Nós brasileiros reclamamos o tempo todo que os gringos consideram a gente ignorante, mas é só encontrar um país um pouco mais pobre que pensamos a mesma coisa.

Foi a primeira de várias vezes que eu tive que parar e reconsiderar alguns preconceitos que tinha sobre esse povo. Um povo que sofreu anos com a ocupação inglesa e que até recentemente estava debaixo de uma forte ditadura militar mas que possui uma cultura incrível e dono das maior quantidade de recursos minerais e outros recursos naturais do sudeste asiático. Além de ser muito bem educado e inteligente.

Shwedagon Pagoda

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Vista de praticamente todos os lados de Yango, é mais sagrado para os budistas de todo Mianmar e talvez do mundo, diz-se que possui relíquias de 4 budas e 8 fios de cabelo de Siddharta, O buda.

A estupa principal é composta por uma base de mármore e o restante de concreto coberto com lâminas de ouro. Em seu topo há outras dezenas de pedras preciosas e diamantes.

Sobreviveu à ocupação dos ingleses, alguns bombardeios e terremotos.

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Mantém-se imponente e impossível passar despercebida aos visitantes e moradores da cidade.

Alguns fatos curiosos sobre esse local são dignos de nota.

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No século XV a rainha Shisawbu doou uma quantidade equivalente ao seu peso (40kg!) para que fosse transformado em lâminas de ouro e usadas para cobrir a estupa principal.

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Ao redor da estupa, há 8 postos planetários representando os dias da semanas e  4 representando as fases da lua. No zodíaco birmânico, mais importa o dia da semana que nasceu do que o mês ou o ano como no horóscopo chinês.

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São 8 animais dispostos nos 8 pontos cardeais  e colaterais; em cada um desse um buda. Os devotos vem para esse lugar e ficam dando banho nos budas dispostos em seu respectivo ponto cardeal ou colateral.

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Não… as semanas em Mianmar não tem 8 dias. Essa diferença se dá porque a quarta-feira, representada pelo elefante, é dividida em quarta-feira de manhã (elefante macho com marfim) e quarta-feira a tarde (elefante fêmea sem marfim).

As demais fotos são de alguns parques e pontos turísticos menores da cidade.

 

 

 

 

 

Kuala Lumpur

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Faz quase um mês desde minha última publicação então tem bastante coisa pra falar. Decidi que ao invés de publicar tudo em ordem cronológica, vou publicar o que estou vivendo e, entre uma e outra publicação, fazer um “Throw Back”: publicar uma viagem antiga.

Depois de ficar 3 semanas em Mianmar, voltei pra Tailândia para encontrar meu irmão e viajamos por quase 1 mês juntos. Depois disso passei rapidinho por Kuala Lumpur na Malásia e agora estou em Singapura.

Vim pra Singapura principalmente para pegar meu visto pro Japão, mas aparentemente só quem é residente é que pode dar entrada no visto por aqui. Infelizmente, Japão vai ter que ficar para a próxima.

Kuala Lumpur

Capital da Malásia de um grande centro de negócios do Sudeste Asiático. Cidades grandes são cidades grandes em todos os países e Kuala Lumpur não é diferente. Algumas coisas chamam a atenção nessa cidade. Diferentemente de todos os outros países em que estive agora, a religião majoritária nesse país é o islã. Então, ao invés de monges budistas por toda parte o que mostra essa diferença são as mulheres com suas Hijabs bastante características.

Etnicamente falando, na Malásia há uma grande comunidade de indianos, paquistaneses e outros povos do oriente médio. Assim como etnias diferentes, as comidas também são bem diferente se comparado aos outros países.

Muito curry, hommus, falafel, kebabs e outras comidas do oriente médio. Foi bom pra dar uma variada.

Petronas Twin Towers

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Sem dúvidas o cartão postal mais conhecido da cidade essas duas torres tem 452 metros de altura, o que faz delas o quinto maior prédio do mundo e as maiores torres gêmeas. Realmente impressionam ao olhar. Todas as noites há um show de luzes, água e som em uma das fontes em frente às torres.

Jakob e Lena

Conheci esses casal de finlandeses no ônibus vindo de Koh Tao, na Tailândia. Como sempre, não tinha planos para quando chegasse na cidade e começamos a conversar e eles logo me acolheram e foi parar no mesmo hostel deles.

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Não sei quantos finlandeses vocês já conheceram, mas eu conheci o suficiente para dizer que são, sem sombra de dúvidas as criaturas mais amigáveis, pacíficas e dóceis desse mundo!

Hpa An

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Primeira parada em Mianmar, onde fiquei apenas 1 noite porque era no meio do caminho para Yangon.

Um lugar onde as casas de palafita ficam com água até a porta de entrada e os arredores são marcados por campos de arroz de onde surgem montanhas de arenito como se fossem ilhas.

Mt. Zwekabin

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Essa é uma das montanhas mais sagradas para o povo de Mianmar. Provavelmente a vista lá de cima é muito bonita, mas quando cheguei no topo, não dava para ver nada por causa das nuvens.

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A parte mais bonita foi esse lago de águas esmeraldas que fica na base do monte antes do início da trilha.

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Kyaut Ka Latt Sanctuary

Com essa rocha e uma pagoda em cima foi meu lugar favorito.

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Como eu passei só um dia na cidade não consegui explorar muito mais que isso. Segui viagem para Yangon.

Thanaka, Betel e Longyi

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Mianmar é esse país que fica entre Índia, China e a antiga indochina. Um país rico em minérios e uma das mais ricas colônias do antigo império inglês.

Viveu uma ditadura militar até recentemente e há poucos anos não se poderia visitar facilmente.

 

Burma X Mianmar

Se você for pesquisar, em qualquer lugar sempre aparecem esses dois nomes para o mesmo país.

Mas qual é o certo?

Burma é o nome que a Inglaterra deu na época colonial, depois virou Mianmar. Até hoje é controverso, mas no fundo, tanto faz.

Qual eles preferem?

Nenhum. Burma ou Mianmar representa uma das centenas de etnias espalhadas por todo o país. O grupo de etnia Shan, por exemplo, que até hoje deseja sua independência não se sente representado por nenhum dos dois.

Então, como eu ouvi mil vezes esses gringos espertões dizendo “Ah… eu prefiro Burma porque representa blá blá blá…” desconsidere. Tanto faz. Eu prefiro Mianmar porque acho que soa melhor.

No texto anterior eu falei que vi um cara com o rosto dourado, saia, lábios e dentes vermelhos.

Thanaka

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Em todas as partes do país, em qualquer cidade, em qualquer lugar, qualquer etnia as pessoas usam o Thanaka. Foi muito fácil lembrar o nome porque Thanaka “Tá na cara do povo!”.

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Uma maquilagem um tanto peculiar mas que não tem fins puramente estéticos, é também usada como bloqueador solar e prevenção do envelhecimento precoce.

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Retirada do caule de uma árvore que dá o nome. Em uma pedra eles raspam o caule junto com um pouco de  água e em seguida aplicam no rosto e as vezes em áreas expostas ao sol. No começo é bem fresco, depois seca e fica meio esquisito, mas não incomoda.

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Betel

Os lábios vermelhos tem uma história diferente.

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Ficam mascando a chamada noz de betel. Uma noz cujo interior parece um cerebelo cortado ao meio, e que dá uma sensação de relaxamento e manter acordado. Como se fosse mascar tabaco, mas qualquer efeito não compensa o resultado estético.

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Não bastasse deixar os dentes, lábios e mucosa jugal extremamente vermelho, essa noz está relacionada a um alto índice de câncer bucal nos países onde seu uso é amplo, como Índia, Bangladesh e claro, Mianmar.

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Longyi

 

Esse é o nome da saia que eles usam. Para mim parece uma toalha amarrada ao redor da cintura, como se todo mundo na rua estivesse saindo do banho.

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Homens e mulheres usam a mesma saia, só que com padrões e cores distintos, bem como a forma de amarrar.

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Mingalaba

Vamos falar do que realmente interessa. Mianmar!

Se você está lendo isso, provavelmente já me ouviu falar milhões de vezes como Mianmar ou Burma foi meu país favorito de todos no sudeste asiático. Os próximos posts vão explicar um pouco porque.

Mingalaba!

Mingalaba, ou quase isso, é como o povo de Mianmar se cumprimenta. Como todos os países que visitei pelo menos “Oi” e “Obrigado” eu aprendo. Por uma questão de respeito e para me sentir mesmo que minimamente mais próximo dos locais.

Por que atravessar a fronteira por terra?

Desde que cheguei na Ásia, disse a mim mesmo que não iria pegar avião. Faria todos os países de busu, trem, barco, carona, bicicleta, caiaque, a pé, drone, jetpack, qualquer coisa menos avião.

Minha vontade de manter minha promessa era cada vez mais desencorajada por todo mundo que tinha ido pra Mianmar. Todo mundo dizia que a fronteira era muito perigosa, rolava tiro porrada e bomba, que para atravessar a fronteira não daria para usar o “e-visa” (i.e. visto eletrônico), teria que ir para a embaixada e isso poderia demorar duas a três semanas, que a melhor forma é pegar o e-visa e voar… etc…

Quanto mais me desacreditavam, mais eu queria atravessar pela fronteira terrestre. Acho que foi a parte genética alemã cabeça dura que falou mais alto que tudo!

“Cara, é melhor voar, porque…”

“Não quero saber…”

Enfim, minha teimosia me levou a Chiang Mai onde fui direto para a embaixada de Mianmar. Paguei 800 Baht (pouco menos que R$ 80,00) e no dia seguinte já estava com o visto!

Não encontrei nenhuma empresa que fosse direto para Mianmar de Chiang Mai, mas a dona do hostel onde eu estava falou que eu teria que comprar uma passagem para Mae Sot.

Atravessando a fronteira

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Peguei o ônibus em Chiang Mai às 8:30 e cheguei em Mae Sot às 14:00. Com um tuktuk fui até o controle de fronteira.

Eu não fazia a menor ideia do que estava me esperando do outro lado. Não sabia se teria como pegar um ônibus, taxi ou carona. Não sabia nem para qual cidade iria.

Casualmente, conheci uma inglesa e perguntei para ela como deveria fazer. Ela disse que  eu poderia pegar um táxi até Hpa An ou Kawkarei. Pro meu desespero, ela não sabia soletrar nenhuma das cidades. Então eu gravei a mais fácil na minha cabeça, quando chegar do outro lado eu falo isso, vai que cola.

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Quando eu olhei para a fronteira, sozinho, com a mochila nas costas e nada mais comecei a rir. Uma das milhões de vezes durante essa viagem que eu pensei: ai ai ai mamãe que que eu to fazendo aqui?

Respirei fundo e fui.

Passei pelo controle do lado da Tailândia e segui a pé em direção ao lado de Mianmar. Um rio separa os dois países e uma ponte de aproximadamente 70 metros conecta uma margem a outra.

Um fato muito curioso é que na Tailândia, os carros andam no mão inglesa, enquanto que em Mianmar é igual no Brasil, do lado direito. Então, no meio da ponte, quem tá do lado esquerdo vai pro lado direito e vice-versa.

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Assim que cheguei perto do posto de controle de Mianmar começou a tocar uma música e todos os militares apontaram para mim, pediram para eu tirar a mochila, ficaram em posição de sentido e eu fiz o mesmo.

Na minha frente, estava um homem com a cara dourada, os dentes e lábios vermelhos, usando uma saia tipo uma toalha de banho, em posição de sentido, cantando uma música que parecia um hino nacional. Assim que o hino iniciou uns dez cachorros começaram a uivar. Parecia uma cena de filme.

O hino terminou, os cachorros pararam de uivar e todo mundo seguiu a vida.

Passei pela fronteira sem muitas perguntas e sem problema nenhum.

Finalmente em Mianmar!

Chegando a Hpa An

Tá… mas e agora? Pra onde eu vou?

Um homem me perguntou para onde eu estava indo, eu quase devolvi a pergunta.

Sabe-se lá como, eu lembrei do nome que a inglesa tinha falado. Hpa An.

Funcionou. Paguei 300 Baht ( 30 reais) e entrei no carro.

Agora, imaginei vocês, na Tailândia os carros tem o volante no lado direito porque todo mundo dirige do lado esquerdo da pista.

Em Mianmar, todos dirigem do lado direito, entretanto o volante em praticamente todos fica também na direita.

Hpa An fica a 160km da fronteira.  Lá estava eu no carro de um desconhecido, que não falava uma palavra em inglês e que não enxergava nada nas ultrapassagens porque o volante estava do lado errado.

Passando por terras alagadas, com muita chuva e cada ultrapassagem um pequeno infarto, enfim cheguei pouco depois do sol se por em Hpa An. Vivo!

Só não contem essa história lá e casa…

 

 

 

 

 

 

Chiang Rai

Depois de algumas horas numa van, muita chuva que alagou todo o controle de fronteira, chegamos a Chiang Rai.

A diferença de Laos para a Tailândia é simplesmente gritante. Tudo é muito mais fácil na Tailândia, pegar ônibus, achar supermercados, caixas eletrônicos, tudo é muito mais fácil. Até parecia que tinha voltado pra um país ocidental.

White Temple

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A grande atração da cidade que fica a 8 km do centro.

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Os detalhes realmente impressionam mas o que mais me chamou a atenção foram essas cabeças aleatoriamente penduradas em umas árvores. Bem coisa de drogado maluco. Gostei.

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Chang Park

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Um parque onde a atração principal é esse leão e isso é tudo. Tem até um mini zoo com umas girafas (???????????) mas nunca gostei muito de zoos então nem perdi meu tempo.

Chiang Mai

Fui para Chiang Mai só para pegar meu visto pra Mianmar. Mianmar foi o país que eu mais gostei de todo o sudeste asiático. As melhores histórias são de lá! Aguardem… se eu tiver uma boa internet e tempo consigo publicar nesse samana ainda.